segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sobre leves obsessões

Gosto quando o topo das árvores toca a grande tela azul com suavidade.
Azul me faz sentir plenitude, e a ideia de belo me faz pensar fragilidade.
Belo; que é de azul tênue, cujo avião risca com fúria.
O primeiro instante talvez presuma medo - o ruído que estilhaça - mas agora entendo, é necessário transir.
O mudo transir, que amadurece o silêncio de quem observa, e leva leve obsessão da lembrança.
Muito de mim é construção, muito mudança - o mesmo eu, cujo movimento distancia do centro; expando.
Hoje creio intensidade como medida de percepção do segundo, não mais confundo com quantidade de casualidade ou ação aos quais transponho com ansiedade. Ainda sinto predileção pelo último andar - como segurança contraditória de observador - é possível olhar seguro, assim como a imersão no objeto de desejo através dessa ilusão de segurança pode propor desequilíbrio e queda.
Adoro o movimento a que me propõe as escadas, diferentemente das rampas, cada degrau é a quebra de um paradigma, gosto de subir e descer; paradigmas acima e abaixo, correndo.
E mantenho a mesma aversão às borrachas, pela simplicidade modesta em conviver com passado.
Os olhos sempre curiosos, como quando criança, sempre apaixonados, se quedam pela liberdade do discurso. Essa necessidade em me fazer entender, à qual dedico longas descrições.
E por que crer? Senão amar?

Detalhe

Tenho sentido muito afeto - em coisas poucas - o sorriso da atendente do supermercado após qualquer breve diálogo ou um desejo de bom dia me faz sorrir. O deslizar macio do grafite que o papel desgasta, aquele samba triste do Amor inconcluso - samba que me faz refletir sobre o mecanismo do bom boêmio, que logo apreende a necessidade da forma em desculpar-se.
A preciosa alegria que transcende o olhar no abraço daquele bom amigo, soa como cumplicidade equilibrada que se faz azul e vermelho. Tenho observado, e observar me faz afeto.
Afeto nos desenhos que o tempo traça impiedoso nas mãos da senhora. Afeto sobre a percepção de tempo; tenho dedicado tempo aos desconhecidos, como que me permitido aquela longa conversa com a mulher no banco do shopping - dedicar tempo ao outro me faz humanidade - e nem me incomodam mais tantas luzes, pouco importa.
Em breve confissão, estive há pouco de cair no abismo estéril do silêncio, temi descrença, como se pudesse esquecer Amor; por fim, tenho muito tentado fugir do ego e negado o discurso em primera pessoa.

terça-feira, 17 de maio de 2011

São Paulo

O relógio
lua
luz
flutuante
alto
espelho
num céu
recortado
retângulos
concreto

Plenitude

Sobre dicionários

Pleno;
estar estável
em meio a tanto
desequilíbrio

Sobre quintas-feiras

É flerte.
Há tanta desordem,
puro equilíbrio.
Sinto furtividade
e cores
como se ouvisse jazz.

Sínese

Sobre movimento
e livre expressão;
corpo


As papilas gustativas
dizem:
não há nada mais alucinógeno
que música.
O sistema nervoso
central
indica:
nenhum amargor é tão suave
quanto cerveja.
Os pés
alertam,
nada melhor;
não ter amarras.

Sobre tatuagens

Para inscrever algo perene
em meu corpo
perecível.
Sei;
sou grande contradição!

quarta-feira, 4 de maio de 2011