domingo, 28 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

F. Gullar

DEFINIÇÃO DA MOÇA

Como definí-la
quando está vestida
se ela me desbunda
como se despida?

Como definí-la
quando está desnuda
se e ela é viagem
como toda nuvem?

Como desnudá-la
quando está vestida
se está mais despida
do que quando nua?

Como possuí-la
quando está desnuda
se ela é toda chuva?
se ela é toda vulva?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sobre paredes (2008)

Feliz 2009

A gente cresce
e com o passar dos anos
a esperança por famigerada felicidade...
Bem, os anos simplesmente passam e não passam de contagem.


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Talvez 3,6 litros de tinta branca
sejam suficientes para liquidarmos todas essas frustrações.

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Sê!
Expressa toda sede,
desenha cada letra, com lealdade
tic tac tic tac tic tac
as horas declinam
Foi instante e com o instante
cai o romantismo.
As palavras já pálidas, com tanta
espera,
mergulhadas no pó.
Desfazem-se, desconfiguram-se...
eis idéia morta.

Onde estive, dois anos atrás

Artur

Ele desenha meu sorriso,
todos os dias.

**

Porque quando estou com Artur,
não há nada além de seus grandes olhos.
Não sei bem o que dizer,
nenhuma conclusão se faz suficiente.

***

Artur veio, revirou minhas idéias,
atraiu minhas preocupações mais fúteis;
amargou.


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Desvio

Seu sorriso se funde ao meu;
Estremeço.

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Sobre o fim

Deixa-me existir
Deixa-me respirar
Na liberdade
me convém o erro
Meu silêncio é denúncia
de morno desespero
E na angústia
todo amor morre
todo sorriso cala
todo prazer esvai-se.
Toda solidão acaricia
Todo ego regenera-se.

Psicotrópicos

Há tigres em meu quarto,
tigres feitos de névoa.
As faces mescladas surgem gigantescas embaixo da janela e me encaram fixamente
estranham-me e causam temor;
Depois seguem em direção à parede e rompem-se ao meu lado, um após o outro,
numa alegoria de tamanha delicadeza.


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Um estado de torpor, a insônia, meu corpo fervilhava
Minhas mãos trêmulas, as luzes tão rápidas que não posso acompanhá-las,
são como cometas, caindo por todos os lados
e quando fecho os olhos, minhas palpebras relampejam
e eu rio, da minha própria solidão
As paredes estão inquietas, desfazem-se em linhas
Tudo se movimenta com tanta fluidez
para frente, para trás, sincronicamente;
me sinto tão desajeitada
Meus pensamentos não cessam, mas de repente "perhaps perhaps perhaps"
entrecortando alguma idéia a qual não lembraria mais.
E há neblina em todo quarto, e há movimentos por todo apartamento
O breu, "and please don't tell me perhaps perhaps perhaps"
acho graça, observo a janela.

Genial, pra justificar a tietagem...

Capítulo 7 de Rayuela

Julio Cortazar



Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.



O Jogo da Amarelinha - Capítulo 7

Tradução de Fernando de Castro Ferro.

Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.

Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quero me dar ao direito do não-pensamento, total ostracismo, nenhuma critica,
fiz-me ideal?
Nego o mau poema que acaba de escorregar por sinapse.
E então? Fecho os olhos!
Estou morta?

Testo as palavras, que me sufocam
eis o mau poema, desde que poema
É preciso reescrever o mundo mesmo se impossível imprimir alguma doçura
A poesia suja, decrépita, depreciativa,
no limbo, na lama, no mofo,
no cinzeiro, pra eu poder contar os restos de meus pulmões
e meus olhos tão cansados de tanta chuva e tantos prédios e tantas neuroses.
E meu cérebro tão cansado de tantas repetições, a televisão,
a conversa dos desconhecidos no metrô,
a casualidade das relações humanas.
A buzinas, as luzes, sou um bicho
cheio de medo, que só sabe esconder-se em meio ao concreto
e sem concreto não me sinto, não me vejo
e sem fuligem, caos, São Paulo, nada sou senão esse reflexo
sou naturalmente violência e ruidos, o ensurdecer.
A dificuldade em ser menos racional
E quero, por ímpeto, gritar
e despir-me, mas sou o entrave
das relações sociais
e sou vergonha comportamental
e temo o juri impiedoso, mesmo que esteja só,
mesmo que ninguém me olhe.
E quando me toco, não mais sinto um corpo
estou aqui sentada e insuportavelmente muda
incapaz de ao menos produzir uma lágrima de lamento pela minha impotência.

Sobre mim

E me dei direito aos vícios
Como que à liberdade
Não apague a luz
Bata a porta,
me deixe só
não vou gritar,
estou ocupada demais,
tropeçando num transe
como numa lágrima,
me afogo,
logo esqueço.
Logo amargo,
porque sou toda âmago,
porque sou toda ego
Confesso,
não sei fugir.

Sobre Cortázar e outros mais

Creio que haja dois tipos de homens, entre alguns outros que ainda não conheci, os que são capazes de construir paredes, sólidas, transitórias, tão ásperas quanto frias, tão dependentes de cor e sensibilidade de outro tipo de homem para conseguirem fazer-se observar com trivialidade;
e eu posso de tocá-las, friamente.
Outros homens são capazes de me transportar a delírios lancinantes
e eu sou tocada pela poesia e sinto um calafrio atrás da nuca, como não sou capaz de explicar
me despojo em sorrisos, como se pudesse doar meu corpo a sensação tal de prazer que transcende a matéria, eclode por cada poro, como se fosse toda hormônio, fragrância, delírio, volúpia
é por esses homens que me perco,
é por esses homens que me apaixono.
Então, sou toda expressão e desejos
é o mundo em que me crio e em que creio liberdade.
Sobre as mazelas do mundo, estamos as observando agora mesmo, ao pisar nessa calçada
ao olhar através dessa janela
É necessário que haja poetas,
que criem, reinvente, imprimam mágica
e façam-me esquecer de que estou entre paredes.

Todo um

Algumas pessoas nos despertam sorrisos incontroláveis,
Outras nos levam a reflexões destrutivas,
Alguns corpos não serão mais que matéria ou uma transa memorável
Decepções dilaceram como se fossem irreversíveis, não o são.
Inexplicável como sempre nos damos a chance de novas frustrações, de repente é como se não houvesse passado,
nada melhor que dar-se ao direito da curiosidade.

De toda sandice, de todo anacronismo, de todo medo do retrocesso nos fazemos como indivíduo essencialmente mimético.
Cordialmente, todo amor é o primeiro e também o último
Ao contrário de todo moralismo veemente, até mentiras são feitas a dois, num implícito, mudo consenso.
Já cansei de citar a perecividade, mas algumas idéias óbvias são demasiadamente sinceras
Estaticamente, o que todos esperam são frases de efeito e construções sólidas, mesmo que não haja sentido.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A surpresa boa de 2009

Gabo

Nem vermelho, nem explosões
nem se eu descrevesse como buracos negros desmaterializam matéria,
se eu me utilizasse de metáforas não passaria de uma estupidez
Amizade, Amor, não, não é suficientemente compatível
eu sinto Gabo,como um sentimento-Gabo,
"Burn Burn and Burn", quando lemos Kerouac e estamos dividindo vícios numa noite qualquer
Não é suficiente, e não há neologismo ou adjetivo que expresse tal realidade
Gabo é feito de excessos, tanta liberdade que me perco


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Tenho escutado muito Caetano
Tenho acompanhado muito Gabo
Aliás, Gabo,
é como se eu pudesse tocar Liberdade
Fascina-me sua nudez
É o sentimento-Gabo, despido de medos
Ele me faz falta,
mas não como a saudade,
Gabo não pode ser transcrito em dor
A sua ausência me permite lembrança
e penso em Gabo, todos os dias,
penso alegria
Gabo é simples, espontâneao e poético,
como deve ser amor

Transições

Vou inscrever teu nome em minha pele
Abruptamente
como se rompendo o frágil invólucro, ao ver a nudez do músculo,
(esse, agora, vulnerável)
eu fosse capaz de me livrar de alguma contradição

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Fim

Estava sentada em sua cama quando fez-se solidão
Levantou o olhos maliciosos, sorriu levemente
Descalçou os sapatos, que há tanto incomodavam
Levantou-se e pôs-se a caminhar com doçura,
como se ouvisse Caetano.

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E eu, que ainda sou tão presa à papéis
E eu? Que só quero viver de Amor.

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Inútil mesmo é tentar livrar-se de algum passado.
Estranha é essa sensação do vazio depois de uma hiper dosagem de verdades, a questão não é o resquício de amor, que há muito já era morno, mas essa dúvida imensa e tola de que até que ponto algum instante pode ser demoninado como real.
E o que fazer com os últimos dois anos?
Assumir que sempre estive só?
As promessas desde muito foram falsas, mas e as músicas?
Realmente, compartilhamos tudo, inclusive as mentiras, os insólitos desejos, os utópicos planos.

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Eu quero todos os corpos, todos os nomes, todos os rostos, apaixonar-me todos os dias, independente se pela mesma pessoa.
Todas as sensação, cálidas, ofuscantes, que teus olhos me entorpeçam e calem aos meus desejos incandescentes.
E no momento em que você for embora, quererei arrancar minha pele, na tentativa frustrada de sentir a fluidez latejante, cada músculo, como desprezo,
Inutilmente, a fim de livrar-me de algum passado.

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imagem

imagine
idealize
não seja nada
represente tudo
alegoricamente
categoricamente

Sobre pessoas

Mila

Uma vez romântica reprimida
sempre romântica e reprimida.
Amiga de todos os botecos
qualquer filosofia barata entre copos e garrafas
vazios
sinto que nos parecemos tanto
Todos os sorrisos e não há restrições.


Victor

Falar em Victor é cumplicidade
e querer parar por aqui
Não há descrições
As conversas sinceras
A cerveja enlatada no café-da-manhã
Victor e todos os vícios.


Demo

A amizade sem nexo
Tão amigo que chega a doer.


Estela

Entre tequilas, estranhos e gargalhadas
Estela e seus cabelos curtos, sempre coloridos.

Guilherme,

Doce, amável, admirável, inviável...
quando penso em Guilherme,
não sei fugir de clichês.
Não sei falar em amor,
mas sei falar em Guilherme...
seus olhos castanhos, tão verdes,
suas idéias loucas, tão lindas,
seus comentários enigmáticos,
sempre confuso.
Há uma semana, numa cena ímpar,
conheci Guilherme,
boca entreaberta, sorriso espontâneo,
olhar esguio
tão natural, tão delicado
com alguma malícia, me lembra infância.
mas o que diria Willian ao ler tais frases desconexas?
Willian, não sei, mas Guilherme, não diria nada,
apenas me devolveria um sorriso,
encantardor, doce, lindo, louco, difuso e enigmático.


Filipe

E se eu te gostasse mais,
a gente se confundia


Felipe

A companhia na tarde fria
O despertar das confissões,
que não sabemos fazer baixinho
Ele é como ritmo dançante de britpop
Alegria, paz, abraços sinceros
Eu e ele e não me canso de ouví-lo.