sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sobre vazios

Em algum momento da vida, não sei captar o qual, é como se as atitudes começassem a se justificar por inércia, como se eu pudesse justificar raciocínios curtos com a falta de tempo.
Não sou dada a dramas, mas parece que em algum momento, perdi - não sei o que, mas perdi, como quando você transpõe o portão, encara a rua e sente um frio que começa nas vias aéreas e chega intensamente ao ventre, uma agonia, como se estivesse nu na porta de casa.
Não, não são as pessoas, nem o tempo, mas parece que perdi a fé, alguma partícula de crença muito íntima, que me dava suposto sentido.
Não são frustrações, não há tempo hábil para projetar vazios, não me dei a esse luxo, é muito mais instintivo viver, naturalmente, sem demais dramas ou extensões.
Mas, perdi, em algum momento perdi, perdi o foco, perdi a fluidez, a coordenação, as idéias, simplesmente, perdi, como se eu pudesse perder a poesia, a cadência, o ritmo, como se esquecesse algum tipo de fórmula, antes inerente à mim, perdi o bom-senso, perdi as construções filosóficas, a linearidade, o conforto.
Ninguém vive de nostalgias, essa cruel obviedade, mas é como se a percepção sensível do mundo solidificasse, e todo pensamento permanecesse inconcluso, quase como sem amor; e concatenar idéias é um ato elétrico, organizado.
A dificuldade em transpor toda ação posta ao redor, não compreendo, é como sair do desequilibrio que proporciona a existência e deixar escapar todo fluido de que nutri, é como não encontrar a órbita.

3 comentários:

  1. Tem dias, aliás, todos os dias, me sinto assim. Como se olhasse para trás, e vesse uma parte de mim perdida. Terrível ser espectadora de uma coisa dessas.

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  2. Às vezes sinto como se fossemos construídos por vazios, gradual e paradoxalmente.

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  3. belo blog nada vazio.

    mas é assim, no vazio que se encontra o cheio.

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