terça-feira, 24 de março de 2015

Peguei um cigarro, como todos outros dias e desci escadas, agora outras, sempre escadas. A cabeça fervilhante - a cidade acelerada - apenas um cigarro, os olhos do porteiro seguem, o esforço em ignorar me vence.
Só um cigarro.
Um tiozinho, grisalho, branco - daqueles que coloca a camisa pólo dentro do jeans, usa cinto de couro como os sapatos - que tédio - pateticamente alinhado, cabelos todos os dias curvados ao mesmo lado.
Pediu licença e iniciou seu discurso tedioso.
Nalguns dias não há reação, é como se nada acontecesse. Nada. Sinto uma inundação que ecoa
nada. nada. nada.
Não escolhi, não é opção essa combinação duplo X, esse gene inteiro que me supõe objeto frágil.
Objetivamente objetificadas.
"Você é muito bonita" ou qualquer coisa vociferada por desconhecidos mais de uma vez hoje ou ontem ou anteontem em qualquer trajeto entre a porta do condomínio e a rotina.
Mas que inferno, quando a gente não tem graça nem pra debochar e chora nos degraus tediosos.
Chorei, como quem ainda paga a dívida do Éden.
(nov/2014)

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