quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Vivacidade

Azul

Você ri, e eu sinto um prazer imenso proporcionado pela vertigem da sua risada. Tropeço nalguma hipnose desse turbilhão de lembranças resgatado por esse ritmo desordenado - você criança - ria tão dócilmente, escondendo as maçãs do rosto entre as palmas das mãos, quase como acanhamento.
Lembro você tão menino, lembro do dia em que soube da sua existência, da floricultura na maternidade; a infância, os finais de ano na praia, os domingos em família em que você ligava, com certa ansiedade, perguntando se lhe faria companhia.
Hoje estamos nesse banco, muitas coisas mudaram, é noite de natal; nossas conversas me surpreendem, adimiro sua maturidade; e suas ambições me soam tão saudáveis, assim como a simplicidade das mesmas ambições expressam tamanha lucidez, sinto orgulho.
E eu vejo seus dezessete anos, tão seguros, cheios de planos e convicções; alto, forte, belo, tão homem em formação; e a imagem acústica ainda remete àquele garotinho esguio, cujo olhar deslumbrado era desviado à imensidão azul, seguindo o duvidoso movimento colirido das pipas. Seus olhos, sempre tão expressivos, observadores minuciosos, seus grandes olhos oscilantes: azul ou verde? Não importa, o sensível é que são vastos, persuasivos, assim como sua saborosa gargalhada tendenciosa, furtiva e multifacetada.
Então associei o quão é proporcional o amor que sinto por nosso passado, nossa convivência, o amor que sinto pela intervenção do acaso, esse acidente genético e/ou geográfico que nos fez dividir e construir tanto com tanta naturalidade; assim como o amor que sinto pela liberdade da sua risada, que nada mais representa além de você. Impressionante, como me contamina sua vivacidade.

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