sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sobre amanhecer

Não entendo porque essa necessidade incessante de dialogar ao amanhecer, parece-me que as pessoas acordam desesperadas por quebrar o jejum do silêncio estabelecido durante as horas de sono. Dizer que tal prática me causa irritabilidade seria extremo, mas prezo o silêncio; quando acordo estou em embate comigo mesma, todos os dias. Porque, todos os dias, é preciso reencontrar minhas crenças, é como se passar muitas horas sobre o domínio elétrico-impulsivo subconsciente dissolvesse a desordem de meus pensamentos, é preciso reorganizá-los, ou mesmo, como se, ao acordar, todas as ideias que rodearam minha massa cinzenta ao longo da noite estivessem prontas para me sufocar, explodem, como um grande cogumelo, sem nem ao menos respeitar os minutos necessários para que me cérebro obtenha merecida oxigenação. É o embate diário, eu e todo o acúmulo.
Então caminho, o movimento nada mais é que ato de desequilíbrio, porque cada metro de asfalto faz com que eu e convença de todas as mentiras com que terei de compactuar, ou mesmo proferir, ao longo de um dia.
E todos os dias, pela manhã, é preciso correr, para sentir a fluidez do músculo. Correr, não de mim, mas do mundo; como num exercício, em que o asfalto friccionado por meus pés é diretamente proporcional à velocidade com que assimilo essas experimentações de cidade, essa falta de fé; tempo, espaço, pessoa.

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