sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Contraponto

Se o movimento é dado por Amor, como acreditar em ódio? Sinceramente, ódio é uma palavra inventada apenas para satisfazer a dupla dicionarizada: antônimo. Pense tédio; é o pior sentimento que as pombas podem criar, o tédio fere a liberdade, as pombas sentem tédio nos fios elétricos, vão para o chão; e as cabeças pra frente pra trás como vício. O voo baixo, e todos subestimam o movimento de migração dessa classe de aves adaptada ao meio urbano. Talvez as pombas nem mesmo pensem mais em como voar, ciscam o dia todo e andam - a cabeça pra frente pra trás, debilmente - entre o topo das esculturas, alguma janela baixa de sobrado, andam pra frente pra trás, como vício; tédio.
Tédio; pense como construir um muro de tijolos, detalhe a detalhe, empilhado peças de barro ao longo do tempo, formando aquele grande impasse laranja escuro áspero, visceralmente consolidado por uma estrutura lógica e repleta de solidez, a qual dificilmente será capaz de desabar, porque cada peça está estrategicamente sendo posta e colada com massa de concreto. E, num dado momento, você olha para cima e nem acredita que pode ser tão indiferente, porque o muro está alto, mais alto que cinco ou seis vezes o parâmetro do tamanho ego, mas você nem imagina há quanto espaço tem alimentado aquela construção amorfa, em cuja pombas nem pensam mais em sujar o topo; tédio.
Qual será a grande dificuldade do estopim entre ação e inação? Que tipo de inércia se distancia da outra inércia que faz com que alguns corpos amem movimento, enquanto outros permanecem estáticos? Sim, o grande sentimento-tédio ao tédio é a impassibilidade, o grande tédio é o limite inanimado muro, um tédio em forma de pomba, pra frente pra trás, incoerentemente. Tédio, que não transpõe; a imobilidade que de alguma forma contrapõe Amor, mata crença - estático: tédio - mas é tédio e tão tedioso que não contrapõe nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário