quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sobre ausência

É sempre mais difícil pela manhã – a gente acorda, meio fora de eixo – essa transição do universo onírico ao quadrado branco; e os cabelos estão totalmente emaranhados ao pescoço, como se pudessem enforcar. Não adianta, há a ilusão inicial de que cortá-los é a solução, mas não, lidar com a ausência permanece trabalhoso, porque agora você se sufoca com os lençóis, sim, a culpa é dos lençóis... e você nem se recorda mais o porquê cotar os cabelos era tão necessário, mas tenta sentir algum conforto em usar menos xampu, como se algo realmente houvesse mudado, alguma sensação cômoda de praticidade.
Em seguida, você se convence a dormir sem lençóis, mas o que fazer com aquela sensação de pigarro eterno? É preciso abandonar os cigarros; é tão fácil convencer-se de que tudo depende da predileção por um sistema de vida mais saudável. Alguns dias a gente acorda soluçando e acha que pode fingir que não sabe de onde vêm os ruídos, talvez dos vizinhos – e como são barulhentos – os vizinhos; ou foi um pesadelo? A questão toda está na solidão!
Dizem que a solidão enlouquece; a sociedade garante que dialogar consigo é evidência. Sufocamento; porque o embate permanece, vício diário, mas o interlocutor só permite que você se cale, como se te tapasse a boca com as mãos; não há mais nada a dizer. À noite é sempre mais fácil ignorar, a gente gasta tanta energia durante umas quatorze, dezesseis horas nisso - até ter certezas – você já assumiu o quão são cruéis as certezas? Todos os dias tão voláteis; castram a imaginação. Mas vão chegando as horas, e depois das vinte e três horas e cinqüenta e dois minutos – não custam a chegar - dá até medo de dormir. Já perdeste os cabelos, no andar de cima, fazem um silêncio perturbador e os lençóis se tornaram supérfluos...

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